quinta-feira, 9 de maio de 2013

Tutoria Online. O modelo de Gilly Salmon (2002)

A Tutoria Online pode ser entendida como a atividade de implementação, condução e acompanhamento de alunos/formandos na Educação a Distância (EaD) por meio de tecnologias de informação e comunicação. Esta pode decorrer em ambientes de comunicação síncrona, nomeadamente via chat, em ambientes de comunicação assíncrona como é exemplo o fórum e pode ocorrer ainda em ambientes artificiais de realidade virtual e/ou aumentada. 
 
Um dos macro-referenciais pedagógicos da EaD, e consequentemente da Tutoria Online, é o modelo proposto por Gilly Salmon (2002) que realça a importância da interatividade entre os membros da comunidade. As estratégias pedagógicas devem desenvolver-se de forma a responder a objetivos relacionados com o acesso, motivação e socialização dos membros da comunidade, troca de informação e a construção partilhada de conhecimento, para que no fim do curso haja o desenvolvimento sustentado de uma comunidade de aprendizagem. 

As cinco etapas do modelo são as seguintes:

I) Acesso e Motivação  

Os e-formandos acedem à plataforma pedagógica com o auxílio do e-formador e este motiva-os a participar e a colaborar através de uma mensagem de boas vindas e da abertura para ajudar em alguma dificuldade. A etapa termina quando são deixadas as primeiras mensagens pelos participantes; 
 
II) Socialização Online 

Dá-se o estabelecimento da identidade online de cada participante e descoberta dos outros colegas através do perfil definido por cada um, discussões e debates no fórum ou outro tipo de tarefas que promovam a empatia e interacção. É importante que o e-formador tenha um conhecimento aprofundado sobre cada participante. A etapa tem fim quando os e-formandos começam a partilhar online um pouco de si; 
 
III) Troca de informação 

São operacionalizadas várias atividades que pretendem a partilha de informação sobre os conteúdos do curso propostos entre os e-formandos desempenhando estes últimos um papel activo na consecução dos objectivos. É fundamental um contexto colaborativo e de interacção e para isso, o e-formador deve encorajar o contributo pertinente e adequado dos e-formandos. A etapa culmina com o início da construção de conhecimento; 
 
IV) Construção do Conhecimento 

Tem lugar uma aprendizagem interactiva e construtiva onde ocorre exploração, discussão, reflexão e avaliação de factos e posições. O e-formador comporta-se como um participante apoiando e estimulando a procura de respostas e realizando sínteses durante os debates; 
 
V) Desenvolvimento Pessoal 

Procura de benefícios do sistema que permitam atingir os objectivos individuais, permitindo-lhes reflectir e compreender o seu processo de aprendizagem e a se responsabilizar mais pelo seu percurso. O e-formador continua a apoiá-los respondendo a dúvidas até que a experiência formativa termine. 


 
Assim, compreende-se que os intervenientes assumem papéis diversificados, implicando determinadas competências técnicas e pedagógicas para cada nível e que há uma progressiva e acentuada autonomização do e-formando na co-construção do seu conhecimento para a qual contribui o acompanhamento constante, mas gradualmente esbatido, por parte do e-formador e a partilha e colaboração com a comunidade de aprendizagem. 

Vantagens e desvantagens do modelo
 
Vantagens:
- é um modelo claro e objetivo quanto às etapas fundamentais da criação e desenvolvimento da comunidade de aprendizagem e dos papéis dos aprendentes e formador em cada uma das etapas;
- importância que confere à interatividade na consecução dos objetivos (patentes no modelo) mas que apresenta uma ambivalência pois esses objetivos são progressivamente mais complexos e difíceis de atingir;
- potencia uma progressiva e acentuada autonomização do aluno na construção do seu conhecimento;
- a aprendizagem é essencialmente interativa e construtiva;
- o acompanhamento por parte do tutor é progressivamente menos necessária.

Desvantagens:
- é necessário o domínio de determinadas competências tecnicas e pedagógicas em cada um dos estádios do modelo, tanto pelo formador como pelos participantes. Caso o formador não possua, é difícil ou mesmo impossível da formação ter sucesso;
- por vezes é difícil para o formador dar feedback a todos os participantes individualmente ou contatar aqueles que não participam, sobretudo quando se trata de um grupo muito grande. Neste modelo é exigida quase uma omnipresença do tutor.

As vantagens e desvantagens do modelo também se relacionam com as ferramentas de que dispõe, e que são as ferramentas assíncronas e as síncronas. E que de seguida irei clarificar.

Ferramentas assíncronas
(forum, email, por ex.)

Vantagens:
- possibilita o acesso às atividades no momento mais conveniente;
- o sitema pode falhar (desvantagem) mas poderá aceder noutro momento e aceder às informações pois o software mantém as mensagens registadas;
- fácil controlo das intervenções dos participantes.

Desvantagens:
- falha do sistema;
- pouca motivação em participar porque não há domínio dos conteúdos;
- ausência de pistas paralinguísticas (comunicação não-verbal).

Ferramentas síncronas
(chat, videoconferência, por ex.)

Vantagens:
- feedback imediato à intervenção dos participantes (pode ser também uma desvantagem quando a mensagem passada pelo participante for desadequada e não lhe permitir corrigir);
- pode permitir o acesso à linguagem corporal se for através de videoconferência.

Desvantagens:

- falha do sistema sem acesso à informação anterior à falha;
- condiciona e pressupõe o acesso de todos os participantes em simultâneo;
- dificuldade por parte do tutor em controlar todas as intervenções dos participantes e redirecionar o grupo;
- pouca motivação em participar na atividade porque há pouco domínio dos conteúdos e de competências linguísticas em termos de rápida leitura e de teclar rapidamente.

Tal como no ensino tradicional, há vantagens e desvantagens no ensino a distância, mas podem ser atenuadas com a aplicação de um bom modelo de tutoria. Neste caso específico o modelo de tutoria de Salmon pois é sem dúvida um macro-referencial pedagógico na educação a distância e por esse motivo dever-se-á ter em consideração na planificação/desenvolvimento de cursos online. O papel do tutor online e as competências que este deve possuir são exigentes mas podem ser adquiridas através de formação e experiências online quer enquanto formador quer enquanto formando.


Referências bibliográficas:


Moreira, A., Pedro, L. F. & Santos, C. (2009). Comunicação e Tutoria Online. In Ensino Online e Aprendizagem Multimédia, pp. 111-124. Lisboa: Relógio d’Água.

Morgado, E. & Andrade, A. (s.d.). Avaliação da Tutoria no Ensino a Distância. Disponível m: http://pt.calameo.com/read/000027735e9edf7afab6a , consultado a 13 de março de 201.

Santos, T., Pessoa, T., Barreira, C. & Póvoa, L. (2008, Setembro). A Tutoria Online. In Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Colóquio sobre Questões Curriculares. Coloquio apresentado em Florianopolis, Brasil.

Sérgio, J. (2007). Presença social, percepções, relações interpessoais e grau de satisfação com o curso de e-learning. Tese de Mestrado em Comunicação Educacional Multimédia. Universidade Aberta, Disponível em: https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/740/1/LC242.pdf, acedido a 13 de março de 2013


 

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